segunda-feira, 24 de maio de 2010

Professores de Feira de Santana em mobilização

PROFESSOR EM MOBILIZAÇÃO

De fato, como podia

Um professor em mobilização

Compreender por que sua aula

Valia mais do que um pão?

Na verdade, ele desconhecia

Algo que para ele teria muito valor:

Que o professor faz a luta

E a luta faz o professor.

E um fato novo se viu

Que a todos admirava:

O que um professor dizia

Outro professor escutava.

E foi assim que o professor

No limite de sua precarização

Que estava acostumado a sempre dizer sim

Começou a dizer não.

E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

Notou que a ausência do seu vale-refeição

Era o banquete do patrão.

Que o seu inalar do pó de giz

Era a sala de ar condicionado em que trabalha o seu patrão

Que a não aquisição da sua casa própria

Era o condomínio de luxo do patrão.

Que o seu famigerado vale-transporte

Era o carro do ano do patrão

Que aquilo que ele custeava para manter a sua aula

Era a propaganda do patrão.

Que o não-acesso ao enquadramento

Era o tempo de lazer do seu patrão

Que a farra da compra de lousas e bebedouros digitais

Era um custo sem explicação.

Que as reformas de fachada e as escolas improvisadas

Era o Prédio luxuoso da Secretaria de Educação

Que o seu estado de saúde cada vez mais pauperizado

Era o Plano de saúde do patrão.

Que a grande presença de estagiários nas escolas

Era a saída para o não-investimento na educação

Que sem um Plano de Carreira digno

O magistério não terá valorização.

E o Professor Precarino disse: Não!

E o Professor fez-se forte

Na sua resolução.

Sentindo que a violência do corte de salários

Não lhes causariam desmobilização

Um dia o gestor tentou apelar

Para um reajuste de conciliação

De sorte que foi levando

Para o final da negociação

Uma proposta de 4,31 em maio

E o complemento de 1,69 em julho para terminar a mobilização

Mas os professores

Chegaram a uma compreensão

Que eles viam coisas

Que nunca poderiam ser observadas pelo seu patrão

Os professores refletiam sobre seus estudos, horas de dedicação

Das noites em claro, corrigindo avaliação

Via também alunos que careciam de acompanhamento pedagógico e de atenção

Negadas por não haver livros didáticos e o cargo de coordenação.

E viam que os seus conhecimentos produzidos

Fazia o lucro do seu patrão

E que cada coisa misteriosamente havia

A marca de seu pensamento em ação.

E o Professor Precarino disse: Não!

- Loucura! – Gritou o patrão: Não vês os benefícios que te dou eu?

- Mentira! – Disse o Professor Precarino

Não podes dar-me o que é meu.

E um silêncio fez-se

Dentro do seu coração

Um silêncio de martírios

Um silêncio de prisão.

E o professor ouviu a voz

De todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreram

Por outros que viverão.

E uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

De que toda a sua luta

Não deveria ser em vão

Dentro daquela tarde mansa

Agigantou-se a razão

De um professor que até então era desvalorizado

A um professor em mobilização.

Adaptado do poema de Vinícius de Morais, Operário em Construção.




--
"É preciso lutar... é possível vencer".
GEED (Grupo de Estudos Educação em Debate)
Moderador